terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Vagas teorias da linguagem





Somos capazes de compreender que a língua é o principal instrumento de comunicação entre os indivíduos. Não que exista somente como ferramenta de comunicação, a língua e as linguagens humanas também são usadas para expressarem pensamentos, sentimentos, julgamentos, eloqüências, compreender o meio, a si e a humanidade, etc. Obviamente, a língua em todas as manifestações representa atitudes humanas resultantes de suas experiências.

A linguagem humana como objeto de investigações científicas pode ser vista sob vários aspectos: pela sua função social, pela função cognitiva, por sua função intrínseca, sob o âmbito da aquisição e do desenvolvimento, de como os elementos psicofísicos atuam na produção, pelo seu papel histórico e cultural, etc. Enfim, o objeto de estudo da Lingüística faz-se a partir de um ponto de vista particular do seu funcionamento no sistema lingüístico.

As discussões sobre a linguagem começaram desde a Antiguidade com os filósofos gregos Heráclito e Pródico e com os sofistas no século V a.C. Esses pensadores admitiam que a linguagem fosse à relação entre pensamento e palavra, ou seja, afirmavam que o sentido estava preso a forma das palavras. Estas preocupações levaram, tempo mais tarde (séc IV a.C), Crátilo e Platão desenvolverem investigações etimológicas lingüísticas, analisando a correspondência entre conceito e som. No século III a.C, os grandes filólogos faziam interpretações e documentações de textos antigos, o que aproximou a ciência das letras com a ciência histórica.

Na Idade Média, época de grande prestígio do latim clássico, surgiu a Gramática Especulativa, afasta-se da tradição documentária dos filólogos na medida em que procurava os princípios universais da linguagem. Esses gramáticos sustentavam que a palavra não representa diretamente a natureza da coisa significada, mas apenas como ela existe de um determinado modo: uma ação ou uma substância ou uma qualidade.

No fim do século XVIII, com a descoberta do sânscrito, deram-se os métodos da Gramática Comparativa, o objeto principal dos filólogos deste período era reconstruir uma língua comum (proto-indo-europeu) que originaria as outras línguas. Usavam métodos de privilégio morfológicos para agruparem línguas, porque acreditavam que elas eram aparentadas e resultavam de transformações naturais de uma mesma língua-mãe.

No século XIX o alemão Humboldt tenta determinar o mecanismo e a natureza da linguagem por meio de raciocínios gerais que se aplicam ao funcionamento das línguas em particular. Para Humboldt a língua é o trabalho mental do homem, é a expressão de pensamento. A língua não é érgon (produto) dos falantes, ela é enérgeia (energia), fonte criadora de cada um.

Somente no fim do século XIX que a ciência da linguagem conquistou sua autonomia, por meio das contribuições dicotômicas de Saussure que a Lingüística nasceu como ciência, e deixou de ser somente um apoio as pesquisas literárias. Saussure conseguiu delimitar um verdadeiro objeto e método para as pesquisas lingüísticas. Influenciado pelas teorias sociais de Durkeim e Descartes, o estruturalismo saussuriano define a língua como um sistema de signos, resultado de um fenômeno social.  Assim, a função da linguagem é exclusivamente expressar atividade intelectual, dessa vez o racionalismo gerencia o campo da linguagem.

Porém, em oposição ao estruturalismo de Saussure, os idealistas Croce e Vossler retomam as idéias de Humboldt, dizendo que o conhecimento opõe-se ao raciocínio. Esses filósofos admitiam que o conhecimento intuitivo permite o homem expressar-se tanto através das artes plásticas como através da linguagem. Podemos dizer que segundo esses conceitos a expressão lingüística é arte e seu estudo pertence à estética.

Mais tarde, em meados da década de 50, Chomsky apresenta as idéias gerativistas em contrapartida aos tradicionais estruturalistas, os pesquisadores dessa corrente acreditam que a língua é inata ao ser humano, relacionando a própria língua características de um órgão humano. Dessa forma, a principal função da língua é expressão de pensamento.

Neste mesmo período surgiram os adeptos ao Funcionalismo, uma corrente da lingüística que retoma as premissas estruturalistas. Os pesquisadores que atuam nessa linha admitem a função social da língua humana, e para compreendê-la é necessário considerá-la não só no seu aspecto sintático e semântico, mas também pragmático. A preocupação básica funcionalista é o modo como os usuários se comunicam eficientemente, considerando a sistematicidade do funcionamento da língua e a interação social.

Tentativas de compreender as linguagens são tentativas de compreender a complexidade humana. Somos resultados do nosso discurso, e o discurso é o objeto de análise da Lingüística Moderna. Sabemos que, compreender uma língua é compreender toda cultura de uma nação. Porém, as grandes teorias lingüísticas que perpetuam nas correntes acadêmicas são carregadas de crenças e dogmatismos, recriados ao longo da história, o que, muitas vezes, pode tornar os pesquisadores radicais em seus pontos de vista.

Infelizmente, o surgimento do mundo das letras num é tão romântico quanto parece. Quem obteve o poder sobre os povos, sempre foi à camada letrada, e a elite desde antiguidade preferiu gozar esse poder na massa esmagadoramente pobre. Criaram-se os mitos religiosos, os eruditos escreveram as histórias bíblicas e o homem através da linguagem dominou e alienou a grande população.