quinta-feira, 23 de junho de 2011

31 de maio de 2011

Tarde de terça
Organiza o espaço condensado

Vielas voluídas
na volúpia velocidade da ida
subida

Circula
na rotatória da roda rotary

Decaída a tarde que dizia
Frita na noite mal dormida
Planeja o espaço condensado

Um labirinto enlatado
Feito para ser enganado
em contínuos circulares
Enfeitados de chita e bordado
pelas rodas vulgares

Organiza nessa tarde de terça
o espaço ocupado de valores condensados
Volúveis
Voláteis
Evoluídos
Na viela da vida.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

A menina com o espelho

                Olhou-se ao espelho, refletia sobre a face jovem dos seus problemas. Acusava-se de não ter construído nada em sua vida, de ter deixado passar tão futilmente todas as oportunidades. Seguiu demasiada a rotina que havia lhe imposta. Nos últimos dias, saia e entrava das rodinhas e conversas sem dar sua opinião, até mesmo porque, sentia que ninguém lhe dava a menor atenção. Seguiu dias assim por entre pessoas e lugares. No celular pouco falava, às vezes apenas com a mãe.
                Decidiu passar alguns dias no sítio da avó para amenizar a triste solidão. Naquele lugar costumava ficar bem à vontade, considerava o ambiente mágico. Com as lembranças que o clima trouxera, tentou ligar para o irmão, mas a chamada era impossível em cada tentativa. Saiu para andar na velha cidade. Quando encontrava os conhecidos mal conseguia cumprimentá-los, e logo voltou ao sítio, ressentida pela indiferença.
                Ela sempre fora calada, com poucos amigos. Levava a vida na passiva simplicidade: acorda, varre, come, trabalha, banho, leitura, dorme. Com toda a solidão e introspecção de ser, ela era feliz. No entanto, a idéia de sentir-se como uma invisível no mundo estava a trazendo dor.
                Foi conversar com a avó que estava na cozinha, porém a avó nem a notou, como se não a estivesse ouvindo. Chorou. Desabafou consigo mesma, aconselhou-se. Lavou seus olhos inchados e mirou no espelho a sua frente, reviu sua face jovem. Nesse instante, percebeu que estava morta e nem imaginava desde quando, percebeu que era uma alma penada perambulando nos lugares que já estivera. Se já estava completamente triste, piorou. Não conseguia falar com as pessoas que tanto amava, tinha perdido as melhores oportunidades, estava morta.
                A alma penada saiu pelas conhecidas ruas, na andança uma moça a viu e ficou olhando-a de longe, então, a morta aproximou e perguntou se a moça conseguia vê-la, e a moça afirmou. As duas começaram a conversar casualmente. A moça encontrava-se na cadeira de rodas, não tinha as pernas e suas palavras foram renascentes. Esse encontro foi um portal mágico para a pobre alma penada encontrar sua luz. Com o coração aliviado das angustias, ela retornou ao sítio, no seu canto predileto começou a pedir perdão. Foi até o velho espelho, reconheceu sua beleza que já havia se esquecido, admirou seus delicados traços e seu belo sorriso. Agora seu rosto irradiava uma sobrevinda felicidade.