terça-feira, 1 de março de 2011

Bate-papo

Era um bate-papo qualquer no MSN, “oi, td bem?”, “o q tem feito de bom?”, perguntaram sobre pessoas, conversaram sobre livros, contaram acontecimentos engraçados, fizeram piadinhas da própria vida, ouviram as mesmas músicas e falaram sobre os seus planos. Na espontaneidade, ele mudou a imagem de perfil por uma fotografia dos dois juntos. Entre eles houve do acaso um romance. No entrelace a conversa foi a ressalta de aproximação, assim, se entenderam bem e sempre se divertiram muito. Mas, nunca conversaram sobre o perturbável nós, na verdade, acreditavam que nunca tivesse acontecido um nós. No entanto, quando ele trocou a imagem no MSN ela encontrou-se em sentimentos conturbados, observou os sorrisos de alegria daquele dia e sentiu saudades, na fase intensa de solidão, apenas isso a fez feliz.

Enquanto ela procurava por mudanças radicais, ele almejava a estabilidade. Por tantos motivos foram afastados, e por motivos maiores ainda, se estariam por perto, é possível que não ficassem juntos. É como se não tivesse, realmente, existido um nós, apenas eu, você, ele e ela. Nos planos de futuro próximo se envolver em um relacionamento amoroso não faziam parte dos deles. Mesmo assim, desejaram se vê e, nessa brincadeira de carências, se encontraram por uns cinco meses, fingindo que não havia nada de especial entre eles, apenas uma simples compatibilidade de gostos, de carícias e do modo de levar a vida.

As férias de fim de ano chegaram, fazia uns três meses que não se encontravam mais, por causa dos sentimentos duvidosos que a perturbava, ela preferiu fingir acreditar que o quê sentia por ele era uma bobagem, apenas um caso passageiro que já tinha ficado para trás. Nesse tempo, ele se apaixonou por uma garota e se arriscou num relacionamento sério. E pelas circunstâncias, não tinham mais notícias um do outro. Ela queria mudar de cidade e mudar de emprego. Ele queria ficar ali e juntar dinheiro.

Acabou o expediente e foi direto pra casa, ela saiu apressada para pegar o próximo ônibus  e passar as férias com a família. Chegou em cima da hora, entrou no ônibus lotado toda despenteada e suada, avistou um lugar vazio e foi sentar nos bancos de trás. Não havia percebido e, coincidentemente, sentou do lado dele. Ele estava indo a uma festa a fantasia numa cidade próxima a dela, iria encontrar com uns amigos lá. Olharam-se e riram da ironia do destino. No primeiro instante, tiveram uma conversa típica de passageiros, depois fizeram perguntas formais sobre a vida, mas logo os lábios calaram-se e começaram a beijar loucamente em abraços fraternos.

Ele com a fantasia de detetive, um perfeito Sherlock Holmes, atirava-se perdido, não sabia onde exatamente estava indo, nem ao menos tinha certeza de ter entrado no ônibus certo. Ela já mais segura do que antes, só queria ir para seu lar descansar, levá-lo junto e até protegê-lo das inconstâncias. Cada um parou no seu destino conduzido pelo motorista de ônibus.

Foi o último encontro, até agora, dos falsos enamorados. Continuaram seus caminhos como se nada de especial tivesse acontecido entre eu, você, ele e ela. Se um dia voltarem a se ver, certamente terão uma conversa com olhares brilhantes e sorrisos nos lábios.

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