domingo, 8 de abril de 2012

LADOS OPOSTOS

Não se sabe ao certo porque duas pessoas se atraem, seja por motivos físicos, psíquicos ou somente por uma necessidade lascívia, Patrícia e Galvão sentiram-se magnetizados em uma noite de bebedeira qualquer. Entre uma dose e outra de saudade acompanhada à solidão, os impetuosos jovens começaram a discutir questões socioeconômicas que vinculavam nas mídias sensacionalistas e discordaram em todos os pontos de vistas.
A idealista Patrícia argumentava seu discurso libertário-feminista defendendo a liberdade de todos os seres humanos, os direitos iguais, o progresso através da preservação do meio-ambiente e criticando as novas medidas governamentais, como meio de mascarar a velha corrupção política e, conseqüentemente, enganar o povo. Já o esperançoso Galvão acreditava que o país encontrava-se em boas condições de crescimento econômico, devido às riquezas naturais seria rentável construir usinas hidrelétricas para melhorar o desempenho do país, grandes plantios e criação de gado para investir na exportação, atingindo desta forma o desenvolvimento e o almejado progresso pátrio.
Os disparates entre os dois eram estampadamente visíveis. Patrícia vestia branco e permanecia sentada na mesa do bar,  na maioria das vezes, apresentava ser introspectiva, não tinha muitos amigos, não gostava de tantos agitos e não estava interessada em paquera nos últimos meses. Galvão usava vermelho e andava ao redor da moça enquanto argumentava sua opinião, era inquieto, extrovertido, cheio de amigos, que por sinal eram semelhantes entre eles, costumava freqüentar as baladas mais requisitadas e era um grande galanteador, pois quantas mais garotas pudesse conquistar, melhor seria. Mesmo com as diferenças acentuadas, as discussões permaneceram em tons saudáveis, os dois brincavam ao falar, riam, debochavam, ironizavam, sobretudo, respeitavam-se.
Os comportamentos opostos tornaram alvo de conquista entre os dois. Começaram a se olhar minuciosamente, como caça e presa, analisando gestos disfarçados. Em uma pulsação magnética as extremidades se aproximavam. Por meio das brincadeiras debochadas se abraçaram, se acariciaram e beijaram, naturalmente se beijaram. Sentiram-se da união uma batalha, misturado de medo e desejo de vitória.
No outro dia, Patrícia nem recordava ao certo o que houvera na noite anterior, para ela só aconteceu mais uma bebedeira e algumas risadas junto a um rapaz, como geralmente ocorria nas vagas noites de boemia, para a moça tanto fez ou tanto faz se beijou ou abraçou no seu mundo tedioso. Já Galvão ficou encantado pela garota, um contraste da linguagem agressiva com as atitudes doces e um sorriso de ousadia.
À noite, encontraram-se numa reunião de amigos. Em tropeços se olhavam tímidos. Galvão não tinha outro motivo de estar ali a não ser a efêmera paixão. Já Patrícia nem imaginaria que iria reencontrá-lo, quando o viu surpreendeu os seus sentimentos, sabia que algo havia acontecido, mas não conseguia explicar a si, reconhecia o rapaz bonito, alegre e simpático, que se demonstrava atencioso, porém não se reconhecia.
Quando Patrícia se afastou dos amigos, Galvão viu lançada sua oportunidade de ir até ela. Nos seus modos clichês, tentou beijá-la, falava de como havia sido gostoso os dois juntos na noite anterior. Patrícia enxergava as avessas, imaginava que era mais uma garota que Galvão tentava pegar, não acreditou no que o rapaz dia. Em contrastes de olhos, boca e linguagem Patrícia negou seus súbitos sentimentos, não sabia ao certo que acontecera na noite anterior, preferiu não contribuir ao ego machista de Galvão, o negou por completo. Ele foi embora à procura de outra balada e ela permaneceu tranqüila sem esperar nada com seu copo vazio. Nunca mais se falaram e nem se viram.
É certo que os lados opostos se distraem em seus mundos teimosamente diferentes.
               

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